Ayn Rand e os devaneios do coletivismo - Resenha crítica - Dennys Garcia Xavier
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Ayn Rand e os devaneios do coletivismo - resenha crítica

Ayn Rand e os devaneios do coletivismo Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
História & Filosofia

Este microbook é uma resenha crítica da obra: Ayn Rand e os devaneios do coletivismo: Breves lições

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 978-8593751721

Editora: LVM Editora

Resenha crítica

A razão de ser deste livro

Este livro faz parte da série “Breves Lições”. Nela, o autor Dennys Garcia trouxe os principais ensinamentos do economista Friedrich Hayek, da filósofa Ayn Rand, bem como de conceitos gerais a respeito de Filosofia, Justiça e Liberdade.

O autor é doutor em História da Filosofia e professor de Filosofia Antiga na Universidade Federal de Uberlândia. Segundo ele, ao longo das últimas décadas, a universidade virou as costas para a sociedade e seus estudos acabam dialogando apenas com a academia.

A série “Breves Lições” tem a intenção de trazer o pensamento de grandes intelectuais para mais perto do cidadão comum, democratizando o conhecimento. E para entender o pensamento da filósofa Ayn Rand, é importante conhecer um pouco de sua biografia. 

Breve biografia de Ayn Rand

Em 1959, Ayn Rand declarou: “Antes de tudo, sou a criadora de um novo código de moralidade que, até então, tinha sido considerado impossível: uma moralidade não baseada na fé, nem em decreto arbitrário, nem na emoção, nem no místico, nem no social, mas sim na razão.”

A filósofa russa nasceu na Rússia czarista em 2 de fevereiro de 1905, e morreu na cidade de Nova York, em março de 1982, aos 77 anos.

Judia, testemunhou com os próprios olhos a Revolução Bolchevique de 1917. Então, partiu em busca de um país que lhe proporcionasse o modelo ideal de liberdade, os Estados Unidos. Antes disso, chegou a morar em diversos locais da antiga União Soviética.

Em terras estadunidenses, consagrou-se como romancista, dramaturga, roteirista e filósofa. Era seu destino, já que, com apenas 9 anos, sonhava em ser escritora.

Ayn Rand desenvolveu um sistema filosófico chamado de Objetivismo. Este pensamento influenciou diretamente os movimentos libertários, liberais clássicos e conservadores norte-americanos.

O trabalho mais conhecido de Rand foi publicado em 1957. “A Revolta de Atlas” apresenta o Objetivismo de maneira romantizada. Segundo tal doutrina, a razão é o único absoluto do homem, a forma que temos para conhecer a realidade e lidar com as coisas do universo ao nosso redor. 

Para o Objetivismo, buscar a felicidade pelo maior tempo possível é o nosso principal propósito moral. Afinal, somos um fim em nós mesmos, seres humanos. 

Todo tipo de heroísmo como realização não tem a ver com a razão. Em termos políticos e econômicos, a filosofia de Rand baseava-se na defesa do capitalismo com ampla liberdade econômica apoiado por um estado mínimo. 

Para a autora, o capitalismo é o sistema no qual nossos direitos servem de ponte entre a ética individualista e a política. Nele, o governo deve apenas defender os direitos individuais para eliminar toda e qualquer violência do meio social.  

O legado de Ayn Rand

Ayn Rand é muito conhecida como filósofa, mas também publicou romances, peças de teatro e obras de não ficção, muitas delas voltadas a explicar e divulgar sua filosofia. 

No começo da década de 1980, tinha mais de 20 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Em 1991, uma pesquisa realizada pela Biblioteca do Congresso Americano apontou seus escritos filosóficos como a segunda maior influência entre os norte-americanos, perdendo apenas para a Bíblia. 

Seus livros costumam figurar na lista dos mais lidos ainda hoje. 

Por uma ética do egoísmo

O pensamento de Ayn Rand se opõe à tradição do espírito humano, sustentada por um caráter altruísta e dirigido ao bem comum. Em geral, as ações humanas são baseadas nessa máxima.

Quando agimos para atingir o bem comum, nos opomos ao que Rand prega em sua ética do egoísmo. 

Tal doutrina não se limita à Filosofia, mas tem aplicações práticas em termos políticos. Ao pregar a ética do egoísmo, que valoriza atitudes que sejam boas para o indivíduo por si só, ela contraria a tradição judaico-cristã que nos submete a valores que negam o orgulho individual. 

O antagonismo randiano: razão frente ao altruísmo

No pensamento randiano, o altruísmo não é uma condição natural do ser humano, mas um ato que se opõe frontalmente à razão. Não é à toa que, na natureza, cada adulto  cuida apenas de si para sobreviver.

Entre os seres humanos maduros, o mesmo se dá para o bom funcionamento da sociedade.

E, se na natureza, os animais convivem com seu meio sem interferir nele, o homem constrói barragens, desvia o curso de rios, perfura poços e interfere no próprio meio ambiente para conseguir seus recursos. Atitudes egoístas.

Cada conquista é um valor em si mesmo e quando se abandona o direito de pensar, abandona-se o desejo de viver. Quando não somos egoístas, vamos de encontro à nossa própria natureza. 

Pacto, expectativas e normas na relação sociedade e indivíduo

A relação entre o indivíduo e a sociedade é um dos pontos mais detalhados no pensamento de Ayn Rand. 

Para a autora, o conceito de pacto, que nos leva a ter determinados comportamentos em um meio social qualquer, foi deturpado a ponto de muita gente esquecer suas individualidades. Quando falamos em voltar-se para si, muitos pensam que se trata de um abandono dos princípios morais. 

É uma deturpação da realidade, pois o excesso de zelo com a sociedade como um todo, sem a devida atenção ao indivíduo, nos leva a ser privados de liberdade e a regimes totalitários. 

O culto da moral hipócrita

Atente-se a este trecho do livro “A Revolta de Atlas”: “Há dois lados em toda questão: um está certo e o outro, errado, mas o meio é sempre ‘mau’.” 

Segundo Rand, mesmo um indivíduo estando errado, ele pode respeitar a verdade. Afinal, ele assume a responsabilidade das escolhas que fez. Estar certo ou errado faz parte do jogo. Aqueles que buscam o meio-termo, ficam em cima do muro, são taxados como calhordas pela filósofa, porque não buscam a verdade.

Racismo e direitos coletivos

Ayn Rand viveu a experiência da Rússia comunista, vendo o coletivismo extremo no papel de destruidor para uma sociedade.

Em sua obra filosófica, ela se esforça para deixar claro o quanto os regimes autoritários do século XX são fundamentados nesse coletivismo extremo, que não enxerga diferenças e se declara orgulhoso de pertencer a uma massa amorfa.

Nisso, a filósofa chega ao racismo, intitulado como a forma mais baixa e cruelmente primitiva de coletivismo, pois atribui significado moral, social ou político de acordo com a linhagem genética de um grupo. 

Nele, um homem não é julgado por seus atos e índoles, mas pelos atos e índoles de seus antepassados, de acordo com a cor, religião e outros aspectos. É por isso que Rand defende cada ser humano como único, ainda que este descenda do pior dos facínoras. Com uma história única, não podemos ser taxados pelo que nossos antepassados fizeram. 

Egoísmo racional e o prazer

Por mais estranho que possa parecer, o egoísmo deve ser visto como uma virtude. Numa sociedade marcada pelo altruísmo, isso tende a gerar julgamentos negativos.

Dedicar-se ao outro intensamente é algo que a autora abomina, pois a dedicação inteira de uma vida deve ser ao próprio indivíduo. 

Afinal, o homem é um fim em si mesmo, não um meio para o fim dos outros, como se prega em muitas crenças, desde as religiosas até as políticas. Tudo o que envolve egoísmo tem a ver com racionalidade e objetividade, enquanto o que foge dele é irracional e caprichoso. Entenda o egoísmo como algo que lhe dá prazer. 

A origem do governo

O ser humano busca suprir suas necessidades usando a maior ferramenta que ninguém é capaz de criar: a razão. Ninguém é criado de forma isolada, ainda que os valores individuais devessem ter maior atenção por parte de todos. 

Um homem racional procura se beneficiar dos elementos da vida em comunidade, entre eles o conhecimento e o comércio, mas nunca pode perder de vista o fato de ser único e voltado para si. 

Para a autora, é impossível o homem ser completamente solitário, há benefícios demais em uma vida em sociedade, o que não significa que deva se viver em função dela, mas em função da própria existência. 

Raízes do individualismo objetivista e a rejeição da identidade coletiva

Disse Ayn Rand: “A menor minoria na Terra é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias”. 

Tal excerto foi proferido no encerramento de uma conferência da autora entre os anos de 1961 e 1962, quando tratava dos empresários, em suas palavras, a minoria mais assediada dos Estados Unidos. 

Tal fala condiz com trechos de sua obra-prima, “A Revolta de Atlas”. Segundo Rand, muitas vezes se aplica o termo minoria apenas para as raciais ou religiosas, mas os empresários se constituíram como outra espécie de minoria pequena, explorada, denunciada e indefesa. 

Ainda assim, ela não busca defender o empresariado como uma classe fechada, pois sempre está voltada ao indivíduo como ser único, a minoria fundamental da existência.

Notas finais 

Chamar outra pessoa de egoísta é, via de regra, xingamento do qual se faz de tudo para contestar. Mas se quem sofrer essa acusação tiver lido a obra de Ayn Rand, deverá se sentir lisonjeado.

Afinal, a filósofa russa traça uma linha de raciocínio muito coerente em prol da valorização do indivíduo como a parte mais importante da sociedade, sem preocupações excessivas com o coletivo e o bem comum, geradores de pensamentos e regimes autoritários, segundo ela. 

Não é à toa que ela é tão lida e referência por parte dos libertários, liberais clássicos e conservadores nos Estados Unidos.

O professor Dennys Garcia Xavier presta um grande favor aos brasileiros neste trabalho de democratização da intelectual do século XX.

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